Ao longo de mais de uma década de pontificado, o Papa Francisco construiu um legado marcado por gestos concretos de misericórdia, apelos incansáveis pela paz, valorização da dignidade humana e um forte chamado à “Igreja em saída”. Desde o início de sua missão como Sucessor de Pedro, seu testemunho tocou o mundo com simplicidade, firmeza e proximidade.
Logo nos primeiros meses de seu pontificado, em 2013, Francisco esteve no Brasil para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), no Rio de Janeiro. Na ocasião, seus discursos tocaram os corações de jovens e adultos, e deram os primeiros sinais do que seria uma nova etapa na vida da Igreja. Foi no Brasil que seus apelos por uma “conversão pastoral” e pela promoção da “cultura do encontro” começaram a ecoar com força.
A “cultura do encontro” tornou-se uma marca do pontificado, especialmente nas falas e ações em defesa dos migrantes e refugiados, descritos pelo Papa como uma “chaga aberta na humanidade”. O apelo de Francisco era por acolher, proteger, promover e integrar essas populações vulneráveis.
Ainda em 2013, em novembro, foi publicada sua primeira Exortação Apostólica: Evangelii Gaudium – A Alegria do Evangelho. O documento apresentou uma síntese do pensamento e da missão pastoral do Papa, com forte impulso missionário. A exortação lançou a proposta da “Igreja em saída”, encorajando padres, bispos e leigos a levarem o Evangelho às periferias geográficas e existenciais.
O lema papal de Francisco – Miserando atque eligendo (“Olhou-o com misericórdia e o escolheu”) – também se tornou visível em sua postura diante dos conflitos globais. O Papa repetiu em diversas ocasiões: “Não à guerra entre nós”. Esse apelo se intensificou diante de guerras como a da Ucrânia, iniciada em 2022, e o conflito entre Israel e Hamas em 2023. Francisco nunca se omitiu, oferecendo o Vaticano como ponte de diálogo e denunciando o poder destrutivo da indústria das armas.
Em 2019, protagonizou um gesto histórico ao beijar os pés dos líderes do Sudão do Sul, reunidos no Vaticano após a assinatura de um Acordo de Paz. A cena percorreu o mundo como símbolo da humildade e da urgência pela reconciliação.
Outro marco de seu pontificado foi o Jubileu da Misericórdia, proclamado em 2015. Na cerimônia de abertura, ao cruzar a Porta Santa da Basílica de São Pedro, o Papa convidou a humanidade a reencontrar a esperança no coração de Cristo. O Ano Santo convocou os fiéis à conversão e ao testemunho da misericórdia no cotidiano.
Também em 2019, o Papa firmou, ao lado do Grande Imame Ahmad Al-Tayyib, o Documento sobre a Fraternidade Humana para a Paz Mundial e a Convivência Comum. A iniciativa estabeleceu um marco histórico no diálogo entre cristianismo e islamismo. O texto afirma que a fé leva o crente a ver no outro “um irmão a ser apoiado e amado” – e denuncia com firmeza o terrorismo, a violência e a intolerância religiosa.
Do Brasil ao mundo, da periferia ao centro, do gesto à palavra, Papa Francisco deixa à Igreja um chamado claro: ser sinal de paz, ponte de diálogo e rosto visível da misericórdia de Deus.